Verão
Já eram 18:30, eu me olhava no espelho e não conseguia me ver. Abri a gaveta tentando achar a caixinha. Porém não estava no local onde eu havia colocado. Uma furia tomou conta de mim, eu simplesmente odiava quando mexiam nas minhas coisas. Era por isso que eu trancava sempre meu quarto, porém pra evitar o falatório de minha mãe do tipo “Você não arruma seu quarto e ainda tranca pra ninguém poder entrar e limpar” , resolvi deixar ele aberto.
- Patriciaaaaaaaaaaaaaaaa! - gritei.
Sai correndo em direção a porta.
- Patricia vem aqui agora! - gritei novamente. Eu sabia que ela estava me ouvindo.
Minutos depois ela aparece com aquela cara ingenua, como se não tivesse feito nada.
- Aonde está a caixa com minhas lentes? -
- Que caixa? Eu não sei de caixa nenhuma – respondeu.
- A você sabe sim – disse seria – é uma branquinha cheia de água e com duas lentes de contato dentro.
Ela colocou o dedo indicador na cabeça em sinal de que estava pensando.
- É! Talvez eu tenha visto essa caixinha. - disse irônica.
- Aonde você colocou ela sua pirralha? - eu estava perdendo a paciência.
- Não sei. O que você vai me dá em troca.
Olhei ela e podia sentir aqueles raiozinhos saindo dos meus olhos.
- Você quer mesmo saber?
Dei um beliscão em seu braço e fui levando ela ate dentro do meu quarto. Ela gritava de dor.
- Me fala agora, aonde você colocou minhas lentes seu monstrinho. - eu olhava de um canto ao outro e a encarava – ou eu nunca mais vou soltar seu braço e você vai ficar com o braço roxo. Ou até mesmo verde, igual nos programas “ Med Clinical”
- Papaaaaaai – gritou.
- Não adianta gritar “papai” sua monstrinha e me diga agora aonde colocou.
E em questão de segundos ela deu um pisão no meu pé. Que consegui ver estrelas, já que ela estava com uma sandália de saltinho. Ela saiu correndo para porta. Onde se agarrou nas pernas de meu pai que olhava sem entender a garota com o braço inchado e com o rosto cheio de lagrimas.
- Volta aqui sua... - não terminei.
- Pietra – repreendeu meu pai.
Olhei para ele.
- Solta ela pai ou faça ela falar onde ela colocou minhas lentes.
- Eu não sei onde estar lente nenhuma – disse em um bico, se escondendo entre as pernas dele.
- Sua... - apontei meu dedo para ela.
- Pietra olha seu tamanho e o dela – disse meu pai serio – se ela esta dizendo que não sabe onde estar é porque não sabe. Você deixa suas coisas espalhadas neste seu quarto em vem colocar a culpa na sus irma de 6 anos.
Paty concordava com a cabeça, enquanto ele falava.
Ele pegou o braço dela.
- Olha o que você fez no braço dela. - vendo o roxo na pele dela.
- E vou fazer pior se ela não me falar – cruzei os braços.
Ele se abaixou na altura de Paty e perguntou:
- Filha! Você não mexeu mesmo nas coisas de sua irmã, não é?
Elas virou os olhos.
- Talvez, eu tenha mexido.
Sai em direção a ela.
- Sua...
- Calma Pietra – ele me repreendeu, estendo o braço para não me aproximar.
Ele ainda olhava para ela serio.
- Então se por acaso você tenha mexido... Onde você deixou as lentes dela?
- Eu deixei cair na pia do banheiro – disse acanhada.
Naquele momento, eu quis estrangular aquele miniatura de gente com bochechas rosadas. Uma fúria tão grande subiu no meu corpo. Parecia que o vulcão havia entrado em erupção.
- Você.. o que? - Não queria que ela repetisse, mas era algo inacreditável.
- Mas foi sem querer papai, eu tinha visto na televisão uma forma de trocar a cor das lentas, usando tinta. Eu queria fazer uma surpresa para Pi, mas na hora que eu ia colocar a tinta as lentes encarregaram pia abaixo.
Ele olhava para ela com carinho e olhou para mim.
- Viu Pi, foi um acidente – levantou-se – Ela só queria fazer um agrado, porém não deu certo. Agora perdoa sua irmã, porque ela esta arrependida. Não está Paty?
Ela assentiu com a cabeça. Como se fosse um inocente.
- Perdoar ela? - eu rir ironicamente - Pai ela acabou com minha lentes, eu vou matar ela.
- Você não vai matar ninguém. Agora perdoa sua irmã porque já estamos atrasados e você tem que estar no teatro as 19:30 e já são 19:00 – disse olhando o relógio – estarei saindo daqui a 5 minutos.
Eles saíram pela porta. Eu estava chocada.
- Mas pai... como eu vou enxergar? - gritei.
- Você tem seu óculos não tem? Use-o hoje e segunda compramos outra lente para você.
Abri a segunda gaveta da escrivaninha. E coloquei meus antigos óculos. Fazia meses que eu não os usava mais. Desde aquela festa. Ele me lembrava aquela antiga eu, que eu detestava lembrar. A garota insegura, sozinha, que vivia no mundo perfeito dos sonhos, porém não o agora. Aquela garota havia morrido, dando lugar a uma garota aventureira, que buscava o novo e tentava aproveitar todos os momentos.
Mais um ano havia se passado e eu havia me formado no ensino fundamental e daqui a alguns minutos estaria me despedindo totalmente do reforço, com aquela peça teatral que estavam ensaiando a meses. Ricardo tinha dado o seu melhor, quer dizer, não apenas ele mais toda a equipe. Seria a melhor despedida do mundo. Eu iria abrir o espetáculo, estava nervosa e ansiosa ao mesmo tempo. Mesmo com aquele óculos ridículo, nada poderia estragar aquela noite.
A noite saiu como imaginamos. O pequeno teatro estava lotado de pais e familiares de todos os alunos. Todos estavam elegantes, parecia que era um espetáculo da Broadway. Ainda bem que fui a caráter. Meu cabelo estava preso em um coque, muito elegante e meu vestido era um tomara que cai justo, roxo com preto. Ricardo me descreveu como “magnifica”, ele também estava um verdadeiro cavalheiro em seu smoking.
Minha abertura foi simples e direta. Quase chorei ao agradecer a todos, principalmente a Ângela por ter confiando e acreditado em mim em todo aquele tempo. Odiava despedidas então assim que vi, que não conseguiria mais segurar as lagrimas, dei inicio a peça.
As crianças estavam incríveis. A plateia ria, se surpreendia e choraram no ato final. O musica de fundo ajudou muito nisso. Isabela não se contia dentre as lagrimas, enquanto eu a abraçava. Ela dizia “ Nem parece que foi ontem que eu estava tirando as medidas deles”.
No fim do espetáculo, todos se levantaram e aplaudiram de pé. Ricardo se sentia orgulhoso com o resultado e eu me sentia orgulhosa por ele, principalmente. Todos foram convidados para uma festa na casa de um dos atores, que ficava de frente ao cais da cidade.
Tudo estava bem animado, aliás , nossas estrelas da noite eram todas crianças. Depois de beber muito refrigerante e comer bastante salgado, tive que descer do salto e dançar um pouco com Ricardo. Na verdade ele me forçou a aquilo.
Fiquei completamente suada e descabelada. Meu óculos não ajudavam nada, ainda mais porque não tinha no que limpar. Ricardo chegou perto do meu ouvido e sussurrou: “ vamos lá para fora, andar na areia um pouco”
Do lado de fora da casa, tinha algumas pessoas rindo. Fumando. Nem nos notaram indo em direção a praia.
- Então a noite foi como você queria? - perguntou, assim que sentamos na areia.
O mar estava calmo,o vento fresco batia na minha pele, me dando uma ótima sensação.
- Não poderia ter sido melhor – sorri – você fez um ótimo trabalho.
- Eu sei – disse.
Eu rir.
- E... - continuou – nada melhor nesse momento do que comemorar.
- Mas já estamos comemorando.
Ele tirou um frasco de bebida do bolso de trás da calça. Olhei confusa.
- Você disse que havia parado.
- Havia... mas esse é um momento especial. - e deu uma golada.
Minha expressão mudou na hora e fixei meu olhar no mar.
- nos já havíamos conversado sobre isso...
- Relaxa Pi – me puxou para perto dele – isso me acalma, você sabe. E eu não sou de ficar bêbado e também vai ser apenas hoje.
Olhei para ele.
- Promete? - minha cara era de preocupação. Eu não queria parecer chata, mas me preocupava vê-lo beber.
Ele cruzou os dedos entre a boca
- Eu juro.
Sorri.
- Mas então o que está planejando para essas férias de verão? - ele disse.
- Não sei, queria curtir mais esse momento com você. Ano que vem, quase não vamos nos ver.
Ele sorriu, trouxe meu rosto para perto do dele e me deu um selinho.
- Você sabe que não ficaremos tão distantes assim. Vamos nos falar sempre por telefone.
- Como casais normais?
Ele fez uma careta
- Infelizmente sim.
Rimos.
- Então voltamos mesmo a estaca zero – disse.
- Voltamos, mas não vamos nos deixar levar por isso, ok?
- Ok, capitão. - fiz sinal de sentido – E o senhor capitão já tem planos para este verão?
Ele ficou meio sem jeito. Eu sabia disso porque ele passou a mão no cabelo e não me olhou quando foi falar. Tomou outro gole e disse.
- Na verdade tenho sim.
- Então me diga, o que planejou para nós?
- Na verdade, você não estaria nestes planos.
O encarei sem entender. Como assim eu não estou? Era a nossas férias, eu imaginava isso desde que começamos a namorar. Quase não tínhamos tempo e quando finalmente conseguimos ele me exclui?
- Não estou entendendo, Ricardo? - respirei fundo – como assim eu não estou nesses planos? É as nossas férias?
- Eu já estava imaginando essa reação sua. Por isso te trouxe aqui Pi, para te falar que amanha eu viajo e só volto no fim de semana antes de começar as aulas.
Eu estava pasma. Ele iria mesmo me deixar?
- E só agora você me fala isso? Porque escondeu isso de mim? Pra aonde você vai?
- É meio complicado... - deu outra golada.
- Não, não tem nada de complicado. Você omitiu coisas de mim. Ricardo, agente tá junto nessa lembra?
- Eu sei me desculpa, mas é uma promessa.
- Que promessa?
- Eu prometi a um amigo meu que todas as férias de verão eu passaria com ele. - disse com a voz baixa, olhando par ao chão.
- E eu não passo ir com você para casa desse amigo?
- Não, não pode. Ele me pediu pra não levar ninguém.
- Agora eu sou ninguém – disse exigindo respostas. Eu sei, estava pirando.
Ele me olhou serio.
- Você me entendeu.
Ficamos calados por um longo tempo.
- E eu? Como fico? - disse.
- Por isso perguntei seus planos, eu não sei. Sai com suas amigas. Pratica algum esporte, leia um livro na biblioteca, sei lá.
Eu rir ironicamente.
- Algo simples e fácil né.
Ele deu de ombros.
O encarei por alguns minutos e levantei.
- Aonde você vai disse? - perguntou.
- Pra minha casa – passei a mão no meu vestido, que estava com areia. Peguei meu sapato e o encarei – a noite acabou pra mim.
E continuei andando.
- Pietra.. - gritou – Volte aqui...
Eu não estava acreditando. Porque ele tinha omitido aquilo de mim? Pra onde ele iria e quem era esse tal amigo que não deixava levar ninguém para casa dele? Eu sei que meu pensamento estava sendo egoísta, mas era nosso primeiro verão juntos. Sabe o que estava planejando? Que ele seria perfeito e agora? Não passava de mera ilusão, porque quem eu mais queria que estivesse comigo não iria estar.
Liguei da festa para meu pai vir me buscar. Assim que chegou ele percebeu que eu não estava bem. Minha maquiagem estava borrada, mas ao perguntar disse que era suor. Ele sabia que não era, porém não insistiu. Eu amava isso nele, ele sabia o momento certo de perguntar e de se calar. Seguimos viajem em silencio e quando chegamos em casa, antes de eu sair correndo para entrar em casa ele segurou minha mão e me abraçou. Um abraço acolhedor, que me fazia sentir protegida de todo mal.
Chorei ali nos braços dele.
O verão passou mais lento do que eu imaginava. Com Ricardo fora, parecia que tudo estava fora do lugar. Ele havia ido viajar no domingo pela manhã, porém não fui me despedir ou desejar uma boa viajem. Na noite anterior, ele havia mandado uma mensagem dizendo.
“Oi amor,
Sei que está brava ainda e compreendo que não quer falar comigo. Nunca foi minha intenção te magoar, mas acabei de magoando. Sei que sou culpado por essa situação, e te peço perdão por ter omitido isso de você. Mas, eu fiz uma promessa e ele é meu melhor amigo, e por mais que eu te ame, eu nunca abandono um amigo. Espero que compreenda meu lado, eu te amo. Ricardo.”
Eu compreendia seu lado, e por mais que eu quisesse ligar e ouvir sua voz, meu orgulho me prendia, e dizia: Não! Eu não queria ser a namorada grudenta, a chata e a vilã dessa história. Afinal a história é minha né? Eu sou a mocinha. Comecei então a escrever o que ele me fazia sentir quando estava fora. Nos fins das contas tentei seguir seu conselho e fazer qualquer outra coisa. Acabei ligando para Mari, o que não era uma das minhas melhores opções, mas tive esperança mesmo assim.
- Praiaaa – gritou animada.
- Mas Mari, você sabe que eu não curto praia...
- Pi amiga – disse tentando em convencer – se você continuar branca como estar, vai competir com a branca de neve o papel dela no filme.
- Não é para tanto e além disso eu pego muito sol.
- Amiga, não se bronzeia com energia elétrica, a não ser se você tiver aquelas maquinas de bronzeamento artificial, o que eu sei que não tem ou segurar em um fio desencapado, mas ai você não vai poder curtir o bronzeado porque vai estar morta.
- Ai credo Mari. Vira essa boca pra lá.
- Mas é verdade. Aprendi isso com meu novo professor particular.
- Que professor particular?
- o Diogo, é um nerd gato que estuda no colégio da minha prima. Conheci ele quando dei uns passeios por lá.
- Você deu uns passeios no colégio da sua prima?
- Ai Pi você é tão lenta – suspirou – amanhã te conto melhor na praia. Passo ai as 9:00. Beijo, também te amo. Tchal.
Tu Tu Tu
- Mas..-disse eu para o vácuo e eu nem tinha confirmado nada.
E foi baseado nisso meu verão. Praia com a Mari, quer dizer na primeira semana foi assim. Eu me esqueci de levar o bronzeador e acabei parecendo uma barata descascada. Já Mari, curtiu cada momento. Cada dia um garoto diferente estava conversando com ela. Parecia que tinha um imã que fazia com que todos os garotos fossem atraídos por ela, e ela por incrível que pareça conseguia da atenção a todos. Quando apresentei Clara e Isabela, Clara e ela se identificaram na hora.
Enquanto eu estava em casa parecendo uma cobra trocando de pele, via elas nas fotos da internet. se divertindo nas festas de verão que a galera da escola fazia. Sorte que Isabela, meio que sentiu dó da minha situação e acabou me fazendo companhia no resto das férias. Ela levou sua coleção de filmes do Harry Potter e Senhor dos Anéis. Assim como ela, consegui gravar as falas dos atores de tanta vez que repetimos. Ela amava aqueles filmes e por mais depressivo que isso possa parecer, a magia do cara da varinha foi que salvou meu verão, ou não. Devo ter ganhado uns quilinhos nessa onde de pipoca, chocolate e coca cola.
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