Cores
As semanas seguintes foram bem agitadas. Os três instrutores que eu estava auxiliando estavam superanimados para começarem logo. Isabela tinha um potencial incrível de relacionar filmes que abordavam assuntos cotidianos, e como eu sabia como as crianças adorariam isso, lhe orientei a lê alguns textos que ajudassem na reflexão das crianças.
Clara tocava violão, teclado,
baixo, guitarra e saxofone, era uma forma inusitada de ensinar eu admito, mas
como ela era a compositora, ela literalmente ensinava cantando. Orientei a ela,
lê um pouco da geografia, das culturas, territórios, florestas e etc. Na minha
mente, isso soaria bem em uma canção.
Ricardo era o leitor, eu fiquei
fascinada quando o ouvir lecionar história. Seu gosto por leitura, estava além
dos contos de ficção, ele amava a história geral e pretendia se forma nisso.
Não precisei orientar, ele sabia o que queria fazer ali.
Após orientar cada um a sua parte e
fazer junto com eles um plano de ensino para próxima semana, resolvi da o
primeiro passo e chamar todos para ir ao cinema no fim de semana. Na minha
cabeça fazia muito tempo que não ia lá ou no shopping ou comer alguma coisa com
alguém, não sabia nem mesmo se conseguiria lembrar o caminho.
Meu pai levou um susto quando pronunciei a
palavra sair.
– É pai, sair – disse sem muita animação –
eu vou levar os novos instrutores do reforço para comer alguma coisa e ver um
filme. Não é nada demais sabe e vamos voltar cedo.
Ele ficou me olhando sem dizer nada.
– Pai – gritei – fala alguma coisa.
– Você está bem Pietra? – disse atônito.
– É claro que estou bem. Só resolvi sair
com uns colegas, o que tem de surpresa nisso?
Ele ficou calado por alguns instantes, me
fitando.
Isso me dava nos nervos.
– Nada – Pausou – É claro que pode ir.
Sorri.
– E você pode levar a gente no seu carro?
– Posso sim... - disse rápido - as 17:00
em ponto quero todos aqui – e voltou a lê o jornal – devo concordar com tudo
antes que você mude de ideia.
– Obrigada pai.
Subir as escadas correndo. Ao
deitar na minha cama, pela primeira vez me dei conta de que não sabia o que
fazer, como me comportar, muito menos o que vestir. Levantei depressa e liguei
meu computador, assim que ligou coloquei no site de buscas “roupas para
encontro com amigos”. Apareceu uma regata, vestidos, bermudas jeans e tênis.
Tirando a parte do vestido, que eu só usava em ocasiões especiais tipo
casamento e aniversários - que já fazia muito tempo em que eu não ia em um - o
resto foi tranquilo.
Abri meu armário e tirei uma
saia jeans, uma regata com estampa de uma das frases de Shakespeare “Jamais
envelhecerá para mim, nem mucharras, nem morrera”, lembro que a ganhei em uma
bienal que fui a tempos atrás.
Ao arrumar minha bolsa, com dinheiro,
documentos, batom e chaves, vi que estava tudo certo e pronto. Deitei-me
novamente com o pensamento mais acordado do que nunca. Amanha era o dia.
Ocorreria tudo bem. Eu era uma garota legal, não muito comunicativa, mas era
legal. Eu estava nervosa. Confesso estava bastante nervosa. Não me lembro de
ter dormido, lembro de ver o sol entrar com todo vapor pela janela. Andei em
direção a ele e vi pela primeira vez o seu nascer.
Iria dá 16:00 e campainha toca.
– Pietra – gritou meu pai – sua amiga
Clara esta te aguardando.
Tão cedo pensei.
– Pede ela pra subir – gritei.
Instantes depois ela estava na minha
porta.
– Posso entrar? – disse Clara.
Olhei para ela.
Clara era descendente de alemão, seu
cabelo era longo e louro. Pra sua idade seu corpo já havia se desenvolvido pela
metade, seus seios estufados já enchiam seu sutiã. Ela usava short jeans
bastante curto, uma blusa transparente preta que deixava seu sutiã a mostra e
uma sandália com stress.
– Claro entre – sorri – não sabia que
chegaria tão cedo.
– Minha mãe e eu discutimos – disse
sentado na poltrona que havia logo próximo a porta – resolvi vir mais cedo, se
não se importar.
– Ah! – olhei meio desconcertante – tudo
bem, eu vou começar a me arrumar agora.
– Pode ficar a vontade – ela sorriu,
observando ao redor.
– ok! Vou ali tomar banho e já volto. -
disse apontando e indo meio lenta em direção a porta.
– Tudo bem! - sorriu ao se sentar na
poltrona e cruzando as pernas.
– Se quiser pode ligar a TV ou mexer no
computador – indiquei os dois a ela – tanto faz.
Ela assentiu com a cabeça.
Me arrumei no banheiro mesmo, não queria
me troca na frente de Clara. Ta vamos dizer que ainda não estava preparada pra
dar um passo tão grande. É de pequenos passos que a vida começa, então vamos
por partes.
– Alguma coisa boa passando na Tv –
perguntei ao entrar no quarto.
– Não! Nada – disse desanimada.
– Que pena.
Não que eu assistisse televisão, mas nunca
tinha nada de interessante e na minha visão, televisão deixava as pessoas
bitoladas.
– Ei você está diferente – disse me encarando.
– Estou é? – não entendi.
– Sim está – ela levantou e começou a me
analisar – mas não sei o que é.
Fiquei parada, vendo ela andar a minha
volta.
Ela começou a me deixar mais nervosa, do
que eu já estava.
– Por que você tremendo? – ela riu.
– Você está me deixando nervosa –
suspirei.
Ela começou a rir.
– Não ria – disse seria.
– E por que você está nervosa? – disse
ainda sorrindo pra mim, ela estava com brilho labial, que deixava seus labios
ainda maiores. – é só um cinema. E eu só estou olhando, porque você está
arrumada Pi. Está bonita. Deve se vestir assim mais vezes. Você vive com
aqueles óculos, eles tiram o brilho que você tem no seu olhar. Olha.
Ela apontou para o espelho.
Acho que ainda não disse como sou, na
verdade eu acho que nunca tinha me visto como naquele momento.
Eu era uma garota de cabelos ondulados
castanhos escuro, eles eram cumpridos ate metade das minhas costas. Não era tão
magra, mas também não era gorda. Segundo minha nutricionista estou no peso
ideal de acordo com minha altura. Meus olhos cor de mel, porem como Clara havia
dito, estava sempre escondidos atrás das lentes dos meus óculos. Tinha uma pele
parda, pois meus pais eram uma mistura de índio com alemão.
– Eu sou bonita, né? – disse ainda olhando
para mim refletida.
– É muito linda Pi. - sorriu.
Também sorri.
Nunca ninguém havia me dito isso. A não
ser minha mãe, mas ela não conta. Aquelas palavras me fizeram me senti um pouco
normal. Poderia me sair bem nessa noite.
- Você nunca saiu antes, né? - perguntou.
Olhei para ela.
– Como você... - não terminei a frase.
– Pietra eu saio, já fui a vários lugares
e nunca, nem sequer ouvi ou vi você. Ah! a não ser na escola, na arquibancada
sozinha lendo seu livro.
- Ah! Sim...
– Você não tem vida social Pi – disse –
você é inteligente, não é antipática. Percebi isso como você tratou a gente
nessas semanas.
– Eu sei, eu estou tentando mudar.
Andei ate a escrivaninha e peguei uma
caixinha. Peguei o que estava dentro com cuidado e coloquei nos olhos. Aquilo
me incomodava, mas para essa noite devia ser perfeito.
– Lentes de contato? – Disse Clara
surpresa.
– Sim, eu as tenho guardadas, faz tempo –
virei para ela – Então ficou bom?
- Está maravilhosa. Porque não a usa
diariamente?
- Não gosto. Me incomoda um pouco.
- Deveria se acostumar com o desconforto.
Você fica muito mais gata sem aqueles óculos.
Rir sem graça.
- Obrigada.
- Pietra. Mais dois amigos chegaram aqui
embaixo. - gritou meu pai.
Corri ate a porta
- Pede pra subir – gritei.
Momentos depois entrou Isabela e Ricardo.
– Nossa. Que gata amiga. Ta arrasando –
disse Isabela, me olhando de cima em baixo – Não é mesmo Ricardo?
Ela cruzou o olhar com o garoto.
Isabela estava com mini short, igual ao de
Clara e uma bata - deviam estar combinando -. Seu cabelo preto liso, estava
preso em um rabo. Ricardo estava de bermuda xadrez e uma blusa branca, seu
cabelo estava com gel, espetado para cima.
– Esta linda, Pietra – sorriu.
Devo ter ficado vermelha, fazia tempo que
não recebia elogio de um garoto. Na verdade, desde o acaso na escada na 4°
série.
– E essas lentes? – completou Isabela –
Caraca, você devia usar isso mais na escola. Para os garotos repararem mais em
você sabe? Isso te valoriza mais!
- Eu disse isso - concordou Clara.
– Obrigada - agradeci.
– Ta. Agora chega de bajular a Pietra –
disse Clara cortando o assunto. Vamos logo, porque hoje a noite promete.
– Claro! Temos que ajudar a Pietra a se
socializar – disse Isabela com cara de pena.
– Me ajudar? – disse sem entender.
– Claro Pi. - disse Isabela - Você nos
ajudou, agora vamos ajudar você.
– Vamos curtir hoje a noite, Pietra –
disse Ricardo após sorri – Hoje a noite você é nossa e não tem hora para
voltarmos.
– Mas eu prometi ao meu pai que voltaria
cedo – disse assustada.
– Pode deixar que já falamos com seu pai –
disse Clara – e ele foi super legal e deixou.
Ah! Pai.
Ele queria me ver livre mesmo, né?
– Ta bom então – conclui – vamos.
Ao descer as escadas vi meu pai na cozinha
conversando com minha mãe. Acenei para eles e fiz sinal de que estavam fritos –
uma faca passando pela garganta – como assim eles liberam algo sem a minha
permissão, ainda mais quando esse algo sou eu. Eu era uma adolescente tinha que
ter hora pra voltar, sabe? Aquela preocupação que os pais tem “olha o casaco”
“já viu se o tempo está firme?' “Olha a hora de voltar, hein” “Juízo, não fuma
nem beba, não quero que vá presa antes dos 18”. Pelo menos era isso que eu
pensava e não um “Está tudo liberado”
Papai logo veio atrás da gente pra ligar o carro. Ele
nos levou ate o shopping mais próximo. Nessa era digital, todos mexiam em seus
celulares. Isabela disse que era pra poupar assunto para quando chegássemos lá.
Assim que chegamos, me despedi dele com um beijo no rosto.
– Obrigada por ter nos trazido.
– É minha garotinha esta crescendo.- passou carinhosamente a mão
no meu rosto.
– Ela vai continuar sempre sendo sua garotinha – sorri.
Ele sorriu e se foi.
– Não deve ficar muito longe daqui. - disse Isabela.
– Não deve O QUE ficar muito longe daqui? – disse sem entender.
– A Have – disse Clara.
– Como assim Have? Não temos idade pra isso – disse – A gente não
ia no cinema?
Todos riram.
– Não to entendendo a graça – disse seria – eu marquei com vocês
um cinema, lembra?
– É Pietra, mas a gente meio que mudou os planos pra hoje – disse
Clara.
Ricardo começou a caçar algo na bermuda e tirou alguns papeis
coloridos.
– Aqui estão os ingressos – disse – Bel você trouxe os Abadás?
– Tudo certo, Ricardo – disse apontando pra mochila que trazia.
Ela tirou das costas e tirou as camisetas.
– E as identidades falsas? – disse Ricardo.
– Está aqui comigo também – disse Clara.
Fiquei olhando pasma.
– Identidade falsa? – disse.
– Claro, acha que vamos entrar como? Não temos idade pra isso,
como você disse. – falou ríspida Isabela.
– Vocês são loucos – passei a mão pelos cabelos, imaginando que
meus pais deveriam mesmo ter dito alguma coisa.
- Só um pouquinho – disse Ricardo, sorrindo maliciosamente.
Logo após me abraçou, Ele era alto e minha cabeça ficava abaixo de
seu queixo, quando sua cabeça se encostou no meu ombro ele suspirou no meu
ouvido.
- Vai ficar tudo bem.
Eu apenas assenti. Não acreditando.
Assim que colocamos os abadás. Pegamos um táxi e
fomos direto para o evento. Minha mãos soavam frio e minhas pernas tremiam. A
primeira vez que resolvo sair e já vou pra um evento ilegal para minha idade.
Algo me dizia que devia ficar em casa, porém uma outra voz me dizia que seria
uma boa experiência, para não fazer novamente. Claro! Se eu sobrevivesse a essa
noite.
Ao chegar no local do evento, os portões como disse
Clara já estavam abertos. Havia uma pequena fila e logo nos dirigimos para la.
Meu coração batia forte, só de pensar em ter que ligar para meu pai dizendo:
“Ei pai, então você não liberou tudo? Tem como você me liberar aqui da
delegacia, antes que eles me mandem para o juizado de menor”. Seria uma
situação ridícula. Eu sei.
Chegando nossa vez, apresentamos os ingressos ao segurança
do local que estava conferindo os ingresso da galera que entrava. Era um cara
alto de terno preto e óculos. Ele era forte e dava dois de Ricardo. Já
imaginava o pior. Ele olhou nossas identidades e pensou um pouco. Quando
resolveu falar algo na caixa de voz, Clara passa a mão em sua perna e com um
olhar fixo no dele diz:
– Podemos entrar? – um sorriso malicioso brota em seus lábios.
Ele a encara e diz algo em seu ouvido.
Ela assenti.
– Podem entrar – O homem diz assim que retira a fita que bloqueava
o acesso.
Entramos, todos estavam rindo e eu pasmada não acreditando no que
havia acontecido.
– Viu foi fácil – disse Clara.
– E o que ele disse? – Isabela havia acabado de galopar sobre as
costas de Ricardo.
– Apenas disse que estaria de olho em mim – disse entre
gargalhadas.
– Ui, medinho – disse Isabela irônica.
O local do evento era tipo uma fazenda da classe media alta. Havia
muitas luzes e um som altíssimo que pensei que ficaria surda. Um Dj estava em
cimo do palco agitando a multidão frente ao palco e outras pessoas que dançavam
espalhadas pelo campo.
Ricardo soltou Isabela e virou pra mim.
– Então o que achou? – gritou.
– Não consigo te ouvir direito – gritei.
Ele riu.
– E ai? Vão beber alguma coisa? – perguntou a todas.
– Energético – gritou Isabela já se mexendo na batida do som.
- Dois – completou Clara, se embalando junto na dança.
Ele olhou pra mim.
- E você? - gritou.
Me aproximei de seu ouvido
– Não sei – gritei – posso ir com você?
Ele assentiu.
O Open Bar ficava atrás do palco. Tivemos que passar em meio a
toda multidão, foi tenso.
Lá havia de tudo e o preço não era nada amigável. O som era mais
abafado, pois ficava dentro de uma lona. Sentia meus ouvidos palpitarem. Nova
experiência, dizia a mim mesma.
– Então, quer uma cerveja? – perguntou Ricardo.
– Eu não bebo – sorri agradecida.
– Você também não saia e olha onde está – sorriu.
Sem escolhas e como já estava ali mesmo, como dizia o velho ditado
“tá na chuva é pra se molhar”
– Ta bom.
Ele se virou pra bancada e viu as opções.
– Qual você vai querer?
– A que você pedi está bem – passei a mão no cabelo, suspirei – eu
não entendo de bebidas.
Ele olhou pra mim.
– Está tudo bem? – me encarou
– Ta sim – rir – é apenas tudo novo.
– Eu entendo. Minha primeira have também não foi lá essas coisas.
– Serio?
– Sim. No final do dia, acordei próximo demais de uma poça de
vômito e não me lembro se era meu.
– Que nojo – fiz uma careta.
– É não foi uma das minhas melhores experiências.
– Posso imaginar.
– Mas pode ficar tranquila, que vou fazer de tudo para que pra
você essa noite seja perfeita.
– Obrigada – disse sem graça.
Ele se virou pra frente e o rapaz o atendeu. Ele pediu as quatro
bebidas e o pagou.
Entregou a minha.
– De primeira, você vai achar ruim, devido ao álcool, mas logo se
acostuma com o gosto. È uma das minhas preferidas.
- Ta bem.
Fiquei tentando achar a caixinha de balcão, mas sem sucesso.
- O que está procurando?
- Aqui não tem canudos né?
- Cerveja com canudo? - disse intrigado.
- É você não acha que vou por minha boca na lateral dessa lata né?
Ele riu.
- O que foi? - disse sem entender.
- Você é demais – disse ainda rindo – não se preocupe com os
germes Pietra, apenas beba. Olhe.
Ele fez uma demonstração. Abriu o lacre e tomou um gole, com a
lata um pouco acima da boca.
- Viu não tocou em mim – sorriu – agora sua vez.
- Ta bem.
Fiz como ele havia me mostrado. O álcool desceu ardendo na minha
garganta.
- Tudo bem?
- Dá pra acostumar com o gosto.
- Então vamos – ele me deu sua mão. Saímos da lona, o som subiu
novamente a minha cabeça e olhei para a multidão que iriamos ter que passar.
Tomei mais algumas goladas, ate ver que não saia mais nada.
Ricardo olhou pra mim.
- Você gostou mesmo disso né? - disse em meu ouvido.
- Acabou rápido demais, só acho – disse no dele.
Ao chegarmos perto de onde estávamos, vi nas meninas dançando com
alguns rapazes. Passamos por elas e entregamos as bebidas. Eu já sentaria na
grama, se não fosse Ricardo me puxando.
– Vamos dançar? – disse no meu ouvido.
– Eu não sei dançar – gritei.
– Nem eu – gritou.
Eu sorri.
Minha cabeça estava girando, enquanto dançávamos. Não tinha noção
de hora, mas fazia tempo que estávamos ali. Ricardo tinha dito que era só mover
os pés ou expressar o que o som me dizia. Ele me ajudava na minha performance,
e disse que não sabia dançar, fingi que acreditava.
Assim que trocaram de música, eu reconheci pelo menos uma que
estavam tocando.
- David Guetta? - perguntei no seu ouvido.
- Isso mesmo – gritou orgulhoso – conhece as músicas dele?
- Minha irmã ouve. Reconheci pela música. Titanium, correto?
- Isso mesmo.
Ele começou a fazer a dublagem da música, era hilário.
I'm bulletproof, nothing to lose.
Fire away, fire away (…) You shoot me down, but I won't fall
I am titanium
Parecia que nada poderia estragar aquele
momento. As luzes, as pessoas era tudo muito magico.
Porém Ricardo se cansou e disse que sentaria. Eu estava
gostando daquilo e continuei, enquanto ele se sentou na grama e caiu para trás.
Nessas horas, já havíamos tomado mais de 3 latas cervejas, sinceramente aquilo
aliviava aquele som. Minha cabeça girava e meus pensamentos estavam soltos. Eu
estava ali e não estava, porém tenho certeza que aquela não era eu.
Enquanto dançava, senti uma mão na minha cintura. Ao olhar para
trás, vi um rapaz estilo surfista bem bronzeado e cabelos louros, devia ter uns
25 anos no máximo. Continuei dançando ali com ele. Ele me puxou e dançamos
encaixados um no outro, era o mais próximo que fiquei de um rapaz, conseguia
sentir sua respiração. Sua mão deslizou pra baixo de minhas costas. Eu me virei
ficando de trás pra ele, mas continuávamos ainda colados, seu corpo se
esfregava no meu. Sua mão parou na minha coxa e subiu, levando junto minha
saia. Voltei a si, me dando conta do que estava acontecendo. Me desencostei
dele e o dei um empurrão.
- Você tá maluco cara?
- Ué, gata você não estava gostando ate agora?
- Eu estava dançando com você
Ele tentou se aproximar novamente de mim.
- Parecia que você queria mais – sorriu – vem, vamos para um lugar
mais reservado.
O empurrei novamente.
- Sai de perto de mim – gritei.
Mas sabia que ninguém me escutava, o som abafava tudo.
Porem ele era muito mais forte do que eu e começou a me agarrar
ali mesmo.
- Para de marra gata, eu sei que você quer.
Com todas as forças eu tentava me solta dele, porém não tinha
efeito nenhum.
-Me larga – gritava.
Ele passava aquelas mãos suadas em mim. Aquilo me dava tanto nojo.
Meu estômago estava se embrulhando.
- Me larga seu nojento – gritava, mas ninguém dava a mínima e as
meninas estavam longe demais para me ouvir.
- Vem – disse me empurrando.
Ele me levou em direção ao estábulo. Eu estava com medo e não
acreditando no que estava acontecendo. Como ninguém estava vendo aquilo? Minha
cabeça doía ainda mais. Tudo girava e girava. Eu não tinha mais força, para
andar. Então de repente tudo se apagou.
Abri os olhos. Ainda era noite, o céu estava estrelado.
Quando levantei, vi do meu lado um rapaz. Coloquei a cabeça sobre
os joelhos. Meu Deus, o que havia acontecido?
- Você está bem? - perguntou.
- Como eu posso está bem quando... - parei antes de terminar a
frase.
Eu conhecia aquela voz e não era daquele retardado. Levantei a
cabeça e olhei novamente para o rapaz. Meus olhos se encheram de lágrima.
- Ricardo?
Ele olhou pra mim.
- Desculpe Pietra por te deixar sozinha – disse descontente – não
sabia que em alguns minutos você…
– Então aconteceu o pior mesmo né? – disse em meio as lágrimas.
Ele se aproximou de mim e me abraçou. Coloquei minha cabeça em seu
peito. Meu choro molhava sua camisa ou era suor? Eu não sabia.
– Por pouco eu não te acho Pietra. Por pouco aquele canalha faria
o pior com você e seria tudo minha culpa.
Eu olhei para ele. Tentei tirar as lágrimas dos meus olhos.
- Então não aconteceu nada?
Ele fez sinal que não com a cabeça.
Ali sentado, o abracei com todas as forças possíveis. Não tinha
palavras para o agradecer.
- Obrigada Ricardo, muito obrigada! – Lagrimas ainda rolavam pelo
meu rosto.
- Você não deve me agradecer Pietra, é tudo minha culpa. Você não
deveria estar aqui. Você está bêbada e quase foi molestada por minha culpa.
- Eu escolhi vir, Ricardo. Eu poderia ter dito não.
- Mas nós te forçamos – disse sério.
- Não se força uma pessoa que deseja pelo mesmo.
Ele me encarou.
- É melhor irmos. A noite já foi longe demais – disse se
levantando – E as meninas devem está nos aguardando.
Assenti.
Não queria prolongar o assunto. Ele tinha suas razões por esta
daquele jeito. Eu respeitava.
Ao chegarmos próximo a entrada. Vi as meninas abraçadas com dois
rapazes.
- Ei, aqui – gritou Clara.
Aproximamos delas.
- Este é Henrique e Caio – disse Isabela.
- Vocês não se importam que eles no levem em casa né? – disse
Clara abraçadas a um dos rapazes.
Ricardo encarou os dois.
- Claro que não – disse – só me dão um toque assim que chegarem em
casa.
Isabela riu.
- Ok, papai!
E saíram de perto da gente.
O observei por alguns momentos. Ele havia dito alguma coisa.
- Hã?
- Já deu pra gente também, quer ir embora?
- Ah sim! Vamos. São que horas?
- Vai dá 03:00hrs.
- Vamos então.
Ele ligou para o serviço de táxi e ficamos aguardando do lado de
fora.
- Não vai falar comigo? - disse para quebrar o silencio.
Ele estava sério e o clima estava horrível.
- Só estou sem assunto – disse enfim.
- Hm – suspirei – você já namorou?
Ele me encarou.
- Porque está me perguntando isso?
- Curiosidade – dei de ombros.
Ele voltou a olhar pra frente.
- Não nunca namorei.
- Já beijou alguém?
Ele sorriu.
- Este assunto esta ficando estranho – ele me olhou – o que deu em
você pra me perguntar isso?
- Curiosidade já disse.
Ele riu.
- Já, já fiquei com algumas garotas.
Fiquei olhando para ele.
- É como é?
Ele me olhou sério.
- Como é o que?
- Beijar alguém?
Ele ficou sem fala. Eu também ficaria, não sei o que deu em mim.
Deveria ser o efeito do álcool. Ele me encarou durante alguns minutos.
- É prazeroso. É bom. - enfim disse.
- Hum – suspirei – me beija?
- O que? – me olhou surpreso.
- É, me beija – disse calma – Já experimentei coisas bem loucas
essa noite e quero isso agora! E quero com você ou não sou bonita o bastante?
Ele gaguejou.
- É.. você é linda Pi, mas...
- Mas...
- Você está bêbada e eu não posso fazer isso com você.
- Se você não fizer, eu faço – o encarei – sabe que não estou
agindo normalmente, né?
Ele olhou pra mim.
Riu.
-Sei sim.
Ele se acalmou.
E se virou pra mim. Passou a mão sobre meu rosto. Afastou
meu cabelo e pôs a mão sobre minha nuca. Aproximou seu rosto, eu conseguia
sentir seu hálito, o afagar de sua respiração e o pequeno choque que meu nariz
dava ao tocar no dele. Meus braços estavam soltos. Quando seus lábios tocaram
os meus com ternura. Ele abre um pouco sua boca e puxa meu lábio inferior com
delicadeza. Ele se afastou e me olhou. Conseguia ver em seus olhos, o que os
livros expressavam como calor e desejo. Ele sorriu pra mim, maliciosamente.
E como um imã, meus braços se em voltaram sobre seu pescoço. Minha
mão acariciava seu cabelo preto, liso. Enquanto seus braços se prendia sobre
minha cintura, dando o encaixe perfeito do meu corpo sobre o dele.
Sua boca veio sobre a minha, como quando uma pessoa vai comer
aqueles hamburguês da lanchonete da vizinha. Fiz o mesmo que ele – conseguia
imaginar com era devido alguns livros, me ajudou bastante na hora – ate sentir
sua língua úmida e gélida toca a minha. Elas se entrelaçavam. Era tudo muito
intenso e bom. Nos desgrudamos poucas vezes para tomar ar.
Não percebi quando o táxi chegou.
Fui deitada sobre seu ombro ate chegar em casa. Ele me beijou
carinhosamente na testa assim que chegamos. Nos despedimos com um. “Ate logo”.
Subi as escadas de casa correndo e me deitei na cama e fiquei
pensando em tudo o que acontecera aquela noite. A bebida, a dança, o surfista
cretino e Ricardo. Eu não havia reparado o quanto Ricardo era lindo. Eu gostava
dele e não poderia ter sido melhor, meu primeiro beijo com um garoto como ele.
Eu sabia que era só uma ficada, mas ele me achava linda e isso era bom. Era
muito bom.
Não havia reparado, o quanto meu estômago estava embrulhado.
Pensei que as borboletas haviam comido aquele enjoo. Bom, só que não. Sai
correndo em direção ao banheiro e botei toda aquela nojeira pra fora.
Fiquei ali, sentada em frente ao vaso durante a noite. Não sabia
que horas aquilo ia parar e de acordo com os livros, na manhã seguinte eu
acordaria fraca suficiente pra não conseguir levantar pra chegar ate ali, ou
seja estaria na maior ressaca.
Resolvi então passar a noite ali.
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