Festa
Meus dias não estavam nada livres. Além de ter que estudar para o vestibular, tinha que me preocupar também com o concurso. Minha mãe dizia, que a bolsa era sim importante para mim, mas caso eu não conseguisse era o vestibular que iria garantir meu futuro e disso eu não podia abrir mão.
Resumindo a história, voltei a minha antiga rotina. Ia para casa apenas para jantar e ainda assim, logo após a janta eu corria para o quarto para terminar de ler um livro ou praticar meu inglês.
Ricardo e meu pai pela primeira vez diziam a mesma coisa em relação a tempo. Eu não tinha tempo para ambos, quase não os via. Pensando melhor, eu quase não via Ricardo. Nossas brigas se tornaram constantes devido a isso. Ate ele conseguir um emprego temporário na oficina de um amigo dele. Ele se ocupava a tarde e a noite toda passava na academia. Os fins de semanas eram piores, porque ele ficava livre, porém eu não.
- Eu sou um jovem que tem uma namorada gata, mas que não pode curtir o sábado com ela, por que ela prefere os livros do que mim? - disse zangado pelo telefone.
- Amor, já discutimos isso... é o meu futuro - disse calma.
- Eu sei Pietra, mas isso já faz 1 mês. - se calou - pensei que isso acabaria, quando você entregou a merda do texto.
- Foi apenas a primeira parte Ricardo - tentei manter a voz firme e calma, porém já havia repetido isso para ele mil vezes - eu não vou falar novamente sobre isso.
- Mais só uma noite, é o que estou te pedindo, apenas essa noite - implorou.
Pensei bastante.
- Ta bem, mas tenho que volta antes da meia noite - consegui ouvi ele dando um "yes" do outro lado da linha. - e pra onde você pensando em me levar.
- Para festa do Gustavo - disse animado.
- Logo o Gustavo? - suspirei.
- Sim. Quero te apresentar para os meus amigos.
- Ata.
- Porque disse "Ata"? - disse desconfiado.
- Nada. É que a Bianca não me fala coisas boas desse Gustavo.
- Então diga para essa Bianca que ela é uma desinformada, já que não é chamada para festa nenhuma por causa do namorado nerd dela.
- Ricardo - o repreendi.
- O que foi? só falei a verdade.
- O namorado nerd dela e ela são meus amigos. - disse seria.
- Já teve amigos melhores.
- Ah! por favor Ricardo, não vai começar com esse ideia de novo de que a Bianca é culpada por eu ter aceitado participar do concurso.
- Ela e todos aqueles "zé povim" da biblioteca - respirou fundo - mas esquece isso, daqui a pouco to passando ai. beijo.
- Beijo, ate logo.
Ricardo havia mudando bastante desde que entrou no ensino médio. Sentia que ele era muito influenciado pelos amigos dele. E como ele era bem comunicativo e fácil de pegar amizade com todos, certos amizades me desagravam bastante, porém quem era eu para falar alguma coisa? Era a namorada que ficava mais tempo estudando do que com ele. Sua desculpa era sempre essa, se não tem namorada, tem amigos.
Aquilo me irritava muito e acho que de certa forma me envolvia cada vez mais nos livros, para ocupar minha mente. Hoje vejo que esse foi o maior erro cometido pela minha vida.
Quando ele chegou em casa, foi direto no meu quarto, deixando um presente. Duas caixas. Uma com um vestido justo preto - ainda bem que havia me depilado naquele dia - e um sapato vermelho muito bonito.
Ao me olhar no espelho, pela primeira vez desde muito tempo. Vi o quanto havia mudado, meu corpo agora havia curvas e meus seios eram mais fartos. Meu cabelo crescera ate minha cintura. Como eu mudei tão depressa.
Ao me olhar no espelho, pela primeira vez desde muito tempo. Vi o quanto havia mudado, meu corpo agora havia curvas e meus seios eram mais fartos. Meu cabelo crescera ate minha cintura. Como eu mudei tão depressa.
Assim que desci, seus olhos ficaram radiantes. Fazia tempo que não os via daquela forma. Foi por aqueles olhos que eu havia me apaixonado. Uma alegria imensa, tomou conta de mim e em um beijo entre sorrisos ele me diz:
- Te amo!
- Também te amo!
Ao sair, ele combinou com meu pai " Antes das 00:00, sogro". Meu pai achava ridículo, ele o chamar daquilo, mas aquela noite valia.
Assim que saímos de casa, logo me perguntei porque o carro do pai de Ricardo não estava nos esperando.
- Cadê seu carro, Ricardo? - indaguei.
- Resolvi que vamos de uma forma diferente hoje - pegou minha mão e me levou ate o outro lado da rua.
- Não, eu não acredito - disse ao avistar a moto - Ricardo eu estou de vestido!
- Senta de lado - ele me entregou o capacete e olhou minha expressão de desaprovação - vem Pi, deixa de ideia errada. Você vai gostar, eu juro.
- Mas você nem carteira tirou ainda Ricardo, você pode ser preso - disse preocupada.
- Vai dá tudo certo, deixa comigo - ele montou, ligou a moto e colocou o capacete - Peguei essa moto com meu chefe lá na oficina, está tudo direitinho. Consegui ate uma CNH, por fora - disse orgulhoso.
- Falsa, Ricardo? - disse seria.
- É, mas é quase original - ele me olhou e tirou o capacete - não me olha assim Pi, já disse que vai dá tudo certo. Não precisa se preocupar. Aliás, falta apenas um ano para tirar a original. Estou apenas fazendo um empréstimo antes.
Eu sabia onde aquilo iria dar, mas resolvi não contrariar. Fazia tempo que não saímos juntos e do jeito que Ricardo agia ultimamente, ele provavelmente iria dizer que eu estava pondo empecilhos para não ir na tal festa. Preferir deixar para lá e concorda em ir, sem criar argumentos. Aquela noite rendaria, já sentia aquilo.
Pouco depois chegamos a casa de Gustavo. Já tinha bastante gente, muita luz colorida e musica eletrônica. Entramos e Ricardo já foi logo cumprimentar alguns amigos que avistou. Fiquei parada próximo a porta para ver se via alguém conhecido. Para não parecer como uma estranha, fui ate o ponche e peguei um copo de bebida. Estava batizado, eu já imaginava.
Eu não bebia fazia tempo, as vezes tomava um gole ou outro de vinho em casa, porem meus pais não me deixavam abusar. Na mesa havia alguns petiscos, frutas e alguns doces. Comecei a comer alguns, enquanto balança meus pés na batida da musica. Dentre alguns minutos, senti uma mão forte no meu ombro, ao me virar percebi que era Ricardo e outros rapazes.
- Deixa eu apresentar minha namorada - dizia apontando para mim - Essa é Pietra. Amor esses são meus amigos Jorge, Renan, Fabio, André e Gustavo, o dono da festa.
- Ah, prazer - disse limpando as mãos no guardanapo e cumprimentando cada um - a festa está bacana, os petiscos estão uma delicia - me referi a Gustavo.
- Que bom que gostou, Ricardo tinha razão quando disse que você era linda - sorriu maliciosamente - espero que aproveitem a festa, nos fundos tem a piscina e lá em cima tem os quartos, caso precisem. - riu, batendo no ombro de Ricardo.
- Obrigada, mas acho que não vamos precisar - respondi sem empolgação.
- Nunca se sabe né, amor? - disse Ricardo sorrindo.
- Não precisamos ate agora - disse debochada.
Soou um eco de "UUUUU", entre os amigos de Ricardo.
- Rá, é claro que é mentira dela - disse Ricardo na defesa e olhou para mim.
Sorri, peguei outro copo e sai de perto dos garotos. Passei pela pista onde alguns arriscavam em dançar e fui para o jardim. Avistei de longe Mari e Clara, e fui em direção a elas.
- Olha, olha. Quem é vivo sempre aparece - disse Clara.
- Como vai a Nerd, mas desejada da escola? - disse Mari.
Devo ter ficada toda vermelha, sorri apenas.
- Como vão meninas? - disse.
- Só observando - disse Clara olhado para as pessoas ao redor.
- Eu to esperando o Fabio, vir falar comigo - disse Mari, focada na rodinha de garotos onde Ricardo também estava - Ele não larga aquele Gustavo de jeito nenhum.
- Qual é a desse Gustavo? - Disse querendo obter informações, aquelas duas eram as melhores nisso - Não ouvi nada bom ao seu respeito.
- Garoto de família rica, porém que tem seu próprio negocio na escola - disse Mari.
- É lindo, mas na hora H, vixi - disse Clara, fazendo uma careta - não dá conta.
Encaramos ela.
- Bebida meninas, fazemos tanta burrada que o feio se torna o Chris Evans - encaramos o garoto, louro, de olhos verdes que bebia e ria do outro lado da piscina - Pelo menos ele tem um corpo legal, vamos concordar, ele malha.
- Vindo de você, ate concordo - disse Mari - mas ele fuma e isso é nojento.
- E você acha que o seu queridinho Fabio, também não fuma?
- Claro que não, ele disse que apenas vende.
As encarei, para ver se eu estava ouvindo direito.
- O que vocês estão falando?
- A Mari achava que o Fabio não fuma, que inocente - disse Clara e logo encarou Mari - Você acha que ele trabalha para que? Playboyzinho quer a parada né, a venda é que fornece isso e ele não fica com divida.
- É claro que isso é mentira, ele me contaria se ele usasse - disse Mari tristonha.
- Assim como ele contou que pegou a Barbara, a Janaína, Luana... Quer mais?
- Foi uma recaível Clara, eu já perdoei ele por isso - disse nervosa, seus olhos estavam cheios de lagrimas.
- Perdoou? Pra que? Para ele nem olhar na sua cara hoje? Ai amiga, faz como eu, desapega desses moleques.
- Eu não vou me desapegar de ninguém - disse com rosto cheio de lagrimas.
Pegou a bolsa que estava em cima do parapeito da varanda da casa e saiu em direção a porta. Passou por Fabio e ele segurou seu braço, porém deu para ouvir seu grito de "Me solta". E saiu marchando para dentro da casa.
- Uii - disse Clara - A verdade, dói. Ela se apega muito fácil e homem cretino se aproveita disso. Sempre digo isso para ela, porém ela não acredita.
- Pelo visto não mudou nada - disse - ela é desse jeito desde que eramos crianças.
Clara concordou com a cabeça.
- Mas vocês estavam falando... - voltando ao assunto, perguntei - Gustavo vende mesmo droga?
- Claro menina, a muito tempo - ela tomou um gole do copo que estava nas mãos - É melhor você ficar de olho em Ricardo. Ele não esta andando em boas companhias, faz tempo.
Apontou para a roda de amigos que riam. Naquele momento senti um calafrio.
Fiquei em silêncio por um longo tempo. Me despedi de Clara e sai em direção a porta de entrada. Aquilo já tinha dado o que tinha que dá para mim. Ricardo estava me escondendo aquilo, porque?
Fiquei tão inconformada com toda aquela situação, eu não podia acreditar que Ricardo também estava envolvido com trafico que rolava na escola. Apesar de fazer meses que não nos falávamos direito. Nossa relação estava fria e eu não havia percebido. Havia muitas coisas do qual ele não conversava mais comigo, porque sempre que ele tentava eu não tinha tempo. Percebi que com o passar do tempo ele não mais insistiu.
A culpa era minha, havia me tornado no que eu mais detestava, uma garota egoísta. Será? Na minha mente isso soava de uma maneira melhor. Eu apenas estava tomando conta do meu futuro, caso nosso namoro não desse certo eu não ficaria em uma pior. Sem namorado, sem faculdade ou ate mesmo uma chance de estudar fora do país.
Mais ao todo via que a pessoa que eu mais feria era ele. Ele estava sempre lá me apoiando, estudando comigo, me dando a maior força. Ele sentia orgulho de mim, dedicava todo seu tempo para ficar comigo e em troca o que lhe dei foi apenas o “nada”. Eu também me cansaria. Ficar sem tempo para ele, como nesses últimos meses deve ter sido a gota d'água.
O que foi que eu fiz?
- Pietra? - Ouvi uma voz me chamando, em meio ao som que soava dentro da casa.
Me virei para ver quem era e vi Ricardo vindo em minha direção.
- Ei... - disse sem jeito.
- Aonde você vai? - perguntou intrigado.
- Só tomar um ar – respondi, nervosa.
- Mas você estava no quintal agora – me olhou confuso – não entendi.
Eu tentei não falar, mas... a não deu.
- Porque não me contou sobre Gustavo?
- Não estou entendendo – olhou em volta – vamos para um lugar mais calmo.
Ele pegou minha mão e subimos e ate um quarto. Fechou a porta que abafou o som vindo de baixo.
Sentei na cama e ele do meu lado, logo após.
- Pronto! Agora estamos confortáveis – disse – Agora me diga, porque estava indo embora sem me falar?
- Porque não me contou que Gustavo é o ponto da escola?
- Eu pensei que você soubesse.
- Como assim? Você acha mesmo que eu não iria falar nada se soubesse?
- Você nunca fala nada Pi.
Seu olhar estava distante e frio.
- O que mais tem escondido de mim?
- Depende do que você chama de esconder... - sorriu.
- O que você tem omitido de mim Ricardo? - disse nervosa. Eu odiava quando estava falando serio com ele e ele se fingia de sonso.
- Esquece esse assunto Pietra.
- Eu não vou esquecer esse assunto. Você me trouxe aqui não foi? Agora me fala.
Ele se levantou sério.
- Vou pegar uma bebida lá em baixo, já volto.
- A gente não terminou nossa conversa.
- Não... Quando eu voltar a gente continua.
Fiquei ali sentada. Acumulando raiva, não acreditando que ele havia me deixado ali sozinha. Me levantei inquieta e comecei a andar pelo quarto. Vi que era de Gustavo, o filho da mãe que queria acabar com a vida do meu namorado. Tinha vários porta-retratos com fotos dele pequeno, outras dele montado em um cavalo e uma com uma garota, ela era bonita, parecia uma boneca.
Nas paredes tinham cartazes com fotos de mulheres seminuas, medalhas e pôster de bandas de rock. Um armário e uma porta que dava para um banheiro. Ouvi a porta se abrir e me virei. Era Gustavo, entrou rindo, mas parou ao me ver. Filho da mãe, poderia acabar com ele ali mesmo. Ele seria meu primeiro alvo, depois dos treinos de defesa corporal.
- O que está fazendo aqui?- perguntou.
- O que? – disse voltando a si.
- O que você faz aqui no meu quarto?
- Estou esperando Ricardo... - disse sem jeito.
- E cadê ele?
Olhou em direção ao banheiro.
- Oh não. Não é isso que esta pensando. Ele está lá embaixo.
- Ah sim! - disse – Pensei que estaria atrapalhando algo.
Encarei bem a cara dele e sentia nojo. A raiva que sentia dele, consumiu todo meu corpo. Aquela era a hora.
- Atrapalhado? - disse irônica – eu sei o que você faz seu verme!
- O que você disse?
- Não finja de sonso... Eu sei que você é o ponto da escola.
- Quem te disse isso?
- Não importa quem falou... - disse séria. Cheguei perto e coloquei o dedo na cara dele – Se colocar Ricardo em alguma roubada, eu acabo com você.
- Não sabia que ele não respondia por conta própria, mas obrigado por informar. Foi bom saber que ele tem uma mãe durona – disse irônico.
- Idiota, estou falando serio.
- E você vai fazer o que princesinha? - aproximou a mão dele, e pegou uma mexa do meu cabelo – vai chamar o papai ou seu advogado?
- Vou chamar ninguém – gritei e dei um tapa em sua mão – eu mesma acabo com você.
Ele sorriu maliciosamente.
- Você é corajosa devo admitir – Ele pegou com força meu rosto e mudou rapidamente de expressão – porém você não vai dizer nada, porque você não vai querer que esse rostinho lindo se machuque. Ou vai? - sorriu novamente – Então fique de boca calada que não vai acontecer nada com você.
Minha respiração estava ofegante. Olhei para ele com receio – admito que senti medo – mas não dei o braço a torcer. Tentei tirar sua mão, mas ela era forte demais.Tentei novamente tirar a mão dele, porém sem sucesso.
- Calma gatinha selvagem – disse – não vou abusar de você... Não que eu não queira – ele riu – mas porque tem muita gente aqui.
- Ricardo é seu amigo, cretino.
- Ricardo... é mesmo – e me soltou – Bom garoto, porém muito certinho. Tem sorte garota, meninos assim são difíceis de encontrar hoje em dia.
- A maioria são como você, né? Vermes! - cuspi na cara dele.
Ele passou a mão no rosto e riu.
- Você é mesmo corajosa garota. E eu acho isso muito sexy em uma garota – ele se aproximou de mim – talvez ele não se importe se eu tirar só uma lasquinha.
- Fica longe de mim – andei para trás, mas não tinha mais espaço. Parei ante uma parede.
Ele segurou meus braços com força contra parede e me beijou.
Dei um chute na áreas baixas dele, o que o fez recuar e sai correndo.
Ele meio agachado olhou para mim e disse
- Ei garota!
Olhei para trás com desprezo.
- Avisa aquela vadia fofoqueira da Clara, que estou de olho nela – sorriu maliciosamente.
Desci as escadas correndo, com muita raiva. Não vi Ricardo, mas estava muito mais aliviada em pensar que ele não mexia, nem fumava nada. No fim fiquei feliz... Não acreditando em como duvidei de Ricardo, eu o conhecia o suficiente para saber que ele nunca faria aquilo. Me senti um lixo.
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