Poesia
Eu não conseguia falar com ninguém. A saudade sufocava meu peito. Certa noite reparei no papel e caneta que haviam em cima de minha mesa de estudo. Mesmo sem muita força, me levantei e sentei na cadeira frente a ela. Ninguém poderia me entender naquele momento e eu precisava me expressar de alguma forma, entendi que precisava voltar as raízes e voltar a escrever.
Fiquei imaginando, mas o que escrever? Comecei a pensar em Ricardo e em tudo o que sentia e o que queria dizer a ele, mas não podia. E assim o fiz.
Na calada da noite eu penso em você,
Me doí a saudade em pensar em não mais lhe ter,
Queria ter o vento para poder me dispersar
Voar, viajar e me perder nas memórias que me deixou.
Mas o vento não se pega, apenas se sente
Assim como o amor que sinto por ti
Me agarro na certeza de que estas feliz
Com um fone de ouvido, próximo mar.
Mesmo não podendo estar com você
Te sentir e vê-lo sorrindo, enquanto me espera
Quem sabe o tempo nos desse essa nova chance
De tentar demonstrar o que representava para mim.
Injustiça do tempo e do sentimento,
Do que foi bom e para sempre será,
Mesmo que nossa última lembrança não seja a das melhores
Dentro do meu coração você sempre vai está.
Olhei bem para aquelas palavras e me inspirei a cada vez escrever mais. Consegui naquela noite acabar com um bloquinho de folhas e sem perceber acabei adormecendo ali. Acordei com minha mãe mexendo em meu ombro, perguntando:
- Pietra? Você esta bem? - disse preocupada.
Não respondi.
Ela me ajudou a ir ate a cama, e me ofereceu algo para comer, o que no qual recusei. Observou bem o quarto e deparou com as varias folhas de caderno que havia na mesa. Ela pegou cada folha e começou a ler o que estava escrito e me encarou.
- Filha, isso esta muito bom - disse olhando para os papeis impressionada.
Olhava para ela sem nenhuma fala.
- Você voltou escrever de novo Pi, isso é magnifico. - Sorriu - Vou mostrar isso ao seu pai, eu... eu não sei. - começou a andar de um lado a outro - O que te levou a escrever novamente? Lembro que quando era pequena, na casa de sua vó sempre citava poesias e quando perguntávamos de onde havia lido você dizia que havia criado naquele momento e corria para os braços da sua vó dizendo que ela era sua inspiração.
Ela parou de repente.
- Oh meu Deus! Sua vó, é isso. Que tal passar um tempo com ela, se inspira com ela. Ela tem tanta saudade de você, e também ficou preocupada. Mas caramba, como eu não pensei nisso.
E saiu do quarto as pressas.
Foi algo muito rápido. Minha mãe na mesma hora ligou para minha vó que aceitou sem questionar e para o meu pai, para comprar as passagens. Três dias depois eu estava voando para o interior e de lá pegar um ônibus que ia direto para casa de minha vó. Eu havia me esquecido de quanto era longe e aquelas varias curvas me enjoavam ainda mais.
Se você quer saber como foi minha despedida com meus pais, vamos dizer que eles me beijaram muito e fiquei parecendo uma criancinha com cadeira de rodas. Meus pais insistiram que era preciso já que fazia tempo que não comia nada. Eu particularmente achei aquilo desnecessário, poderia muito bem ir andando. Já não bastasse meus vizinhos todos os dias irem perguntar meu estado como se eu estivesse em coma, toda cidade agora me veria deprimente.
Tirando essa parte, da alegria de Paty e choro dos meus pais, no fim achei bacana aquele ideia toda. Nada melhor do que ar livre e sem aquela poluição para desestressar e quem sabe esquecer de Ricardo - mesmo que eu achasse impossível.
Vovó estava me esperando na chegada, ela me recebeu com um sorriso imenso no rosto e quando veio me abraçar, estava mais forte do que eu. Senti minhas costa ruírem – HAHA – tá bem eu sei que exagerei, mas a senhorinha estava forte.
- Pietra, minha querida! - observação ela era a única que me chamava de querida que não soava falso.
- Vovó – sorri – Quanto tempo!
Ela passou a mão no meu rosto me analisando.
- O que houve com você minha princesa – ela fez uma carinha meio triste – você tá magra, tá fraquinha, será que Arthur não está vendo isso não?
- Vovó foi por isso que meus pais me mandaram para cá, eu não estava falando nada até poucos minutos atras – lembrei de Ricardo e minha expressão simplesmente fechou – você não sabe, mas aconteceu tanta coisa.
- Oh! Minha pequena, você esta no lugar certo – e me abraçou novamente.
Fomos ate a caminhonete dela e para minha não surpresa, estava em um estado... digamos “velho”.
- É ainda a mesma caminhonete vovó? - quis parecer surpresa.
- você ainda lembra?
Acenei com a cabeça.
- É ela sim, 20 anos comigo nessas estradas da vida. E continua uma “uva”.
Sorri sem jeito.
- Serio que ainda anda vovó?
- Claro menina, entra. Vou ate passar na cidade para comprar umas coisinhas para fazer para você comer. Vai ver como ela é uma beleza.
- Então tá.
Abri a porta do carona e seguimos ate a cidade. Na verdade, a cidade que minha vó falava era o centro. Onde tinha lojas, uma praça enorme, a igreja da cidade e as pessoas bem favorecidas em suas enormes casas estilo seculo XIX, o que na minha opinião eu achava um luxo. Os jovens da cidade estudavam em uma única escola, sendo assim todos se conheciam. Eu por passar minha infância muitas vezes lá, a maioria me conhecia sem eu os conhecer, mas já fazia muito tempo que eu não ia lá, devem ter me esquecido.
- E então? Sua mãe havia me dito que estava namorando... - disse ela para quebrar o silencio no carro.
- É eu estava – disse sem a encarar, eu olhava para o nada.
- Disse também que ele morreu... - ela me encarava as vezes para ver se eu iria corresponder.
Fiquei em silencio.
- Oh! Minha querida, eu sei como é passar por isso. Quando seu avó morreu, parecia que eu tinha perdido meu rumo, fiquei sem chão e sem saber o que fazer ou para onde ir.
Olhei para ela.
- É minha linda, aquele velho chato, teimoso e orgulhoso não era fácil, mas eu o amava e ter que aprender a viver sem ele foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. 50 anos ao lado de uma pessoa e de repente vê-la ir e você não poder fazer nada.
- Vovô era incrível, vovó. A historia de vocês também é.
- Sim minha querida, porém o mais importante que aprendi com seu avô foi que eu devo entender o tempo.
- Entender o tempo?
- Sim, existe tempo para tudo e você deve aprender e entender isso. Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. Há tempo de nascer, e tempo de morrer.
- Nunca li este poema, vovó. Refere-se a qual livro?
- Eclesiastes 3
- Você dizendo, um livro da bíblia?
- Sim, é claro! De qual outro eu poderia falar?
- Não sabia que lia essas coisas.
- Digo o mesmo querida, aonde que Arthur estava para não te ensinar “essas coisas”.
Dei de ombro.
- Nunca fui ligada a religião, vovó. Aliás, ninguém lá em casa é.
Ela me encarou por alguns momentos.
- Consegui achar o problema. - ela acelerou o carro – pelo jeito essas férias vão ser longas.
De repente o carro para bruscamente e somo jugadas para frente. A sorte é que estávamos de sinto, se não já previa o pior.
- Vovó! - gritei – A senhora esta bem? O que foi isso?
- Acho que o Luige morreu – e me olhou preocupada.
Aquela situação ao mesmo tempo que era tensa, era engraçada. Eu sabia lembrar minha vó de que eu tinha razão, enquanto ela com olhar pensador abria a frente do carro para saber o que houve, dizia: Luige meu filho, porque você foi engatar logo hoje? Não sei o que aconteceu com você.
Para não ter que rir da cara dela, quando chamou o mecânico e eles começaram a discutir, resolvi pegar meu bloco de notas e escrever sobre aquilo. Já que eu deveria passar um longo tempo ali, eu queria registrar. Enquanto olhava para eles e escrevia, alguém encostou do meu lado.
- O que você tanto escreve, garota? - disse encarando meu caderno.
Afastei meu caderno e olhei para cara dele. Ele estava vestido com o mesmo uniforme do mecânico, usava um boné e tinha a pele suja. Ele tinha o cabelo de lado castanho claro e olhos verdes.
- Não lhe interessa. - disse rude.
- Eu hein, nem chega direito na cidade e já vem toda grossa e misteriosa. Tú é detetive, é?
Olhei para ele com olhar de “Ah, sai daqui”
- Sou, e estou procurando um criminoso sequestrador de porcos.
- Jura ?
- Claro, para que eu mentiria?
- Eu não acho que a senhorita esta mentindo... - se defendeu.
- É, um cara alto de cabelos pretos, ele usa uma capa preta e botas de couros. Gosta de sequestrar sempre os porcos mais gordinhos e os tortura.
- Meu Deus! Que absurdo isso. - espantou-se.
- É muito, mas ainda não o encontrei. - disse cabisbaixa e olhei para ele – Sabe, você poderia me ajudar...
- Serio?
- Serio! Acho que você daria um excelente detetive júnior.
- Eu sempre sonhei em ser um detetive.
- Então, mas você não pode falar com ninguém, esta bem?
Ele cruzou os dedos ante a boca.
- prometo.
-Que bom! Se achar alguma pista do suspeito, você me fala.
- Claro, vou ser boca e ouvidos da senhorita!
Sorri.
- Então esta bem! Shiii!
E ele saiu todo feliz para junto com o mecânico que ainda discutia com minha vó.
Eu ria e pensava “ que idiota”
Continuei a escrever. Ate minha vó se aproximar.
- Teremos que fazer uma longa pausa na cidade.
- Porque? - disse desanimada.
- A peça que ele precisa só tem na cidade vizinha, vai demorar umas 3 horas.
- Caraca! - havia esquecido como tudo aqui é longe
- Mas o Denis disse que nós dá uma corona ate a cidade, você pode ficar tranquila.
- Ah! Super...
O dia iria render muito.
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