Cap. 9

Ricardo

   Ele não havia me ligado durante a noite. Recebi uma mensagem quando estava no táxi que perguntava aonde eu estava, mas não quis responder. Não queria dizer que anfitrião da festa, seu suporto "amigo" havia me beijado a força e muito menos o que o levou a fazer aquilo.
  Depois daquela noite , vi o quanto nosso relacionamento estava desgastado e tudo por minha causa. Eu amava Ricardo e faria de tudo para velo feliz de novo ao meu lado e me tornar novamente a garota por quem ele se apaixonou. Se não conseguisse o deixaria ir, não queria ser o pedra na vida dele como já estava sendo.
   Faltava poucas semanas para seu aniversário e a galera da biblioteca me ajudou nos preparativos de uma festa surpresa para ele. Por esse motivo comecei a ficar mais tempo lá. Meu pai gostou da ideia e me ajudou com todos os preparativos - nos aproximamos muito nas ultimas semanas devido a isso, mesmo que sendo para pedir dinheiro. 
 Em nosso quase 3 anos de namoro, nunca havíamos comemorado nada. Eu era péssima com isso e ele, bom... como sempre me surpreendia. Nosso aniversário de namoro por exemplo, lembro que ele me levou em uma bienal do livro em outro estado. Tivemos a noite mais perfeita juntos... ou melhor eu tive . Não havia reparado no tanto egoísta que eu havia me tornado, se eu pudesse voltar e mudar tudo, sabe?
   As vezes não percebemos que existem pessoas a nossa volta que faria de tudo por nós, traves em nossos olhos não nos deixam ver o quanto elas são importantes. Elas arriscariam tudo para nos verem felizes e nos de uma forma egoísta, não vemos o quanto são valiosas, ou quando percebemos já é tarde demais.
  Só eu sabia o quanto o amava, porém nunca demonstrei isso a ele. Aquela festa não seria apenas uma festa, seria meu grito ao mundo do quanto eu o amava e que estaria disposta a largar tudo por ele. Porque ele não era apena meu melhor amigo ou meu namorado, ele era aquele por quem eu esperei minha vida toda e não tinha me tocado. Era aquele por quem eu queria passar o resto dos meus anos.
  Me segurei o máximo para não falar com ele durante as última semanas antes de seu aniversario.  A saudade que batia em meu peito era imensa, ver aqueles olhos brilhando novamente de alegria, poder abraça-lo. Senti-lo. Não via a hora de poder te-lo de novo. Para evitar a saudade e não ligar desesperada para ele - é serio - ficava a noite toda olhando nossas fotos juntos, suas músicas preferidas e etc.
  Mari, Clara e Isabela me ajudaram. Elas acharam lindo o que iria fazer. Ricardo amava história, literatura. Romeu e Julieta era seu preferido desde que me conheceu, ele sempre dizia que a história que nos envolveu. Baseado nisso, a biblioteca se transformou em um lindo cenário do seculo XIX.
    Fiquei as ultimas semanas arrumando tudo e no dia da festa fiquei o dia todo conferindo tudo e dando os últimos retoques na biblioteca junto com o pessoal, até alguns amigos dele também ajudaram, porém não consegui falar com o tal do Lucas.
   Já era tarde, minha mãe ficou de me dar uma carona já que iria no shopping comprar a fantasia de Paty. Isabela e Bianca também ficaram, elas iriam se arrumar lá em casa. Ouvi a buzina, ela tocou duas vezes e fechamos a biblioteca. Estava tudo tão lindo. Aquela seria a noite.
  Até ouvir o som de uma moto, parando em frente a biblioteca. Fiquei parada atônita, não... não poderia ser ele. Eu havia combinado com seus pais que ele não poderia chegar antes, iria estragar tudo. Olhei meu celular e havia varias chamadas perdidas, nem percebi estava no silencioso. Era de dona Marlene, "o que será que ouve?" pensei.
  Respirei fundo - calma, relaxa - e disse para as meninas:
- Haja o que houver, não abra a porta.
  Elas assentiram.

     Sai da biblioteca e vi que Ricardo vinha muito rápido em minha direção, tentei dizer a ele.
- Oi amor, o que esta fazendo aqui essa hora?

    Mas fui surpreendida com sua mão vindo em direção ao meu rosto. Ele estava muito rápido e não deu como desviar, iria ser um tapa foi tão forte que senti um calafrio, quando sua mão chegou a centímetros do meu rosto. Com o susto cai para trás e o observei. Ele parecia esta prestes explodir. Com o pulso fechado andava de um lado ao outro, ate que me encarou novamente.
   - Vadia - Gritou - Tudo o que eu fiz por você e é assim que me agradece? beijando outro cara?
   Ele estava muito alterado. Seu rosto estava vermelho e suado. Ouvi gritos de minha mãe de longe.
- Quem te contou? - disse ainda assustada, agora com lagrimas enchendo meus olhos.
- Então é verdade sua... Eu confiei em você - gritou - eu esperei o seu tempo, eu te apoiei em tudo, dei o melhor de mim. Eu te amava, merda!
 Não consegui dizer nada, a não ser me entregar as lagrimas e chorar.
- Você ainda duvidou de mim Pietra... Eu nunca usaria nada sem contar para você. Porque você era minha parte, seu eu acabasse com  minha vida, estaria acabando com você. - lagrimas também escorriam seu rosto.
 Para chegar naquele estado ele não estava normal. Percebi naquele momento que Ricardo estava bêbado, muito bêbado. Ele passou a mão no cabelo dele e começou a andar novamente de um lado ao outro.
- Tudo o que eu fui... eu era apenas uma sombra para você, um ser insignificantes, mas sabe... - olhou para mim - eu não me importava, eu te amava de tal forma que apenas estar ao seu lado já me tornava o cara mais sortudo do mundo. Eu confiava em você... sua felicidade era meu mundo.
  Ele passou a mão no cabelo e continuou a andar de um lado a outro. Minha mãe chegou correndo, desesperada. Pela sua expressão minha cara não estava nada bonita.
- Ricardo... Pietra o que houve? - ela disse olhando para ele, enquanto me ajudava a levantar.
 Ele me olhou com desprezo e olhou para ela.
- Vai, fala para ela. Fala para sua mãe a vadia que você é. 
Ela me olhou assustada. 
- Pietra... - disse.
- Conta para ela - gritou avançado. Minha mãe o empurrou,  o distanciando de mim - Entendi, você não conta nada para ela, não é mesmo? Assim como não conta para mim, incrível. Acho que ela não sabe que você fica se esfregando em caras por ai. 
Minha mãe me olhou confusa.
- Pietra, o que você fez? - perguntou, tentando entender a situação.
Antes de conseguir responder ele disse
-Me traiu com meu amigo, na minha cara... E se eu chegasse antes, hein?
Minha mãe olhou para mim e tornou a olhar para ele entendendo toda a situação.
- E pelo visto eu fui o ultimo a saber né? - disse olhando a expressão da minha mãe - o idiota, o corno, o trouxa. 
- Me desculpe - sussurrei.
- Cala boca Pietra! Me dá ânsia ouvir sua voz.
- Não... - disse aos prantos.
- Imagino com quantos caras já saiu, com quantos cara já dormiu. Deviam ter rido da minha cara, não é mesmo? Mas eu fui mesmo um idiota, não sabe quantas chances eu tive de te trair, de ir para cama com quantas garotas eu quisesse, mas eu te respeitava - respirou fundo - você não merece o respeito de ninguém. Um ser como você não faz diferença nesse mundo, não o sabe que é amor, muito menos o que é amar alguém. Você só pensa em você.
    Minha mãe era como uma barreira entre mim e ele. Ela via o sofrimento de ambos.
- Calma Ricardo, você esta muito alterado - disse ao passar a mão em seu rosto - vai para casa, toma um banho e pense bem. Antes de tomar qualquer atitude, reveja os fatos. Você esta alterado, agir por impulso não vai adiantar nada.
 Ele me olhou e chorou.
- Me desculpe, senhora - olhou para ela - Pode deixar que nunca mais vou importunar vocês, nunca mais quero olhar para ela de novo.
E saiu andando.
- Ricardo... - o chamei.
Ele se virou.
- E você... Espero que um dia saiba de verdade o que é amar alguém, porque a gente termina aqui.
  Chorei desesperadamente. Aquilo havia cortado meu coração ao meio.
  Minha mãe correu ate ele e disse
- Você não pode pilotar neste estado, ligo para seus pais virem te buscar.
Porém ele não deu atenção. Colocou o capacete e seguiu.
 Minha mãe olhou para mim, e de repente tudo havia parado. O tempo parou e os fatos ocorrerão como em um filme em câmera lenta. Ouvi Paty saindo de dentro do carro gritando, com medo do grande barulho que se estendeu.
  A unica coisa que me lembro, foi a moto de Ricardo metros a frente sendo estilhaçada frente ao caminhão. Eu não sentia meu corpo, parecia que haviam aplicado uma anestesia. Depois disso tudo ficou escuro e no fundo, bem lá no fundo da minha mente ouvia minha mãe gritar desesperada: Socorro!

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