Cap. 11

Depressão

   Após o enterro, todos seguiram para o estacionamento, decidi ficar mais um pouco a sós com ele. Naquele momento, vendo que realmente ele não estava mais entre nós é que a ficha realmente caiu. Eu nunca mais iria vê-lo, toca-lo, abraça-lo. O mundo perdeu o sentido e eu não sabia mais o que fazer ou para onde ir.
  - A culpa machuca não é mesmo?
Olhei para traz e o encarei. Era Gustavo e ele sorria cinicamente.
  - Soube que estava me procurando?
 Me levantei rapidamente e segurei em sua camisa.
  - Foi você, não foi?
  - Como assim? Não estou te entendendo? - e fez uma cara de abusadamente inocente.
  - Para de fingir garoto, você sabe muito bem do que estou falando - o afrontei - você foi na casa de Ricardo, você saiu com o ele, agora quero saber o que você disse para ele.
Ele riu.
  - Ele estava deprimido... disse apenas nossa verdade.
  - Que nossa verdade? - O empurrei com força.
  - Nossos minutos de amor em meu quarto - disse com um sorriso no rosto - Coitado, pensei que havia contado isso para ele, jovem guardiã. Aqueles poucos minutos foram tão impactantes que não procurou mais o infeliz, então ele me procurou para saber e como um bom amigo eu disse. O quanto estava excitava e como foi rápido, na parede mesmo do meu quarto.

Lagrimas caiam sobre meu rosto com o choque.

- Seu mentiroso, eu nunca faria isso com você. Você me BEIJOU - foquei com a voz -  a força e não aconteceu mais nada.
- Não foi isso que ele entendeu...
- Seu... - não consegui palavras para descreve-lo.
- Calma gata, ele ficou bastante irritado com a gente no momento, mas o levei para aliviar um pouco a tensão...
- Bebendo? - o cortei - você sabia que ele estava pilotando e ainda sim o levou para beber?
- Nada melhor do que uma birita para afogar as magoas de uma traição - ele me encarou - e não me olhe assim, eu também estava colocando minha vida em risco. Porém o infeliz resolveu tirar satisfação com você... eu não iria impedi-lo.

Olhei o chão sem fala. Um ódio enorme tomou conta de meu corpo, não acreditava que aquilo estava acontecendo. Minha incompreensão falou mais alto e disse.
   - Porque?
   - Ele não era o cara certo para você  - Ele se aproximou de mim e passou sua mão em meu rosto - Eu te amo garota e faz um tempo que estou de olho em você e aquele cara era uma pedra no sapato. Isso foi bom para ele.

Dei um tapa na mão dele.
  - Seu assassino. - perdi o controle de minha voz e comecei a gritar - Assassino! Assassino! Assassino! Assassino!
Ele tampou minha boca com uma de suas mãos e disse: Shiu!
  - Me chama de assassino, mas não foi eu que o abandonei por varias semanas, não foi por minha causa que ele bebeu nem por minha causa que ele pilotou. Olhe bem tudo isso e me diga, quem foi a culpada disso tudo?
  Tentei balançar a cabeça em sinal de negação, mas ele a parou e continuou.
- Você sabe que foi por sua culpa garota, mas não quer admitir. Por mais que você tente passar essa marra toda, você no fundo não passa de uma nerd metida a patricinha, que só pensa no próprio umbigo. Se ele pensou isso tudo de você é porque você vem dando motivo não é de hoje. Ele não confiava em você Pietra e o nosso beijo não deve ter sido o único, que você deve ter dado em outro cara, sua vadia. Então para de graça e libera pra mim vai. - sua mão desceu meu corpo e o alisou.
  Com um pouco de força que restava em mim, junto com o ódio que sentia dele naquele momento o afastei de mim.
- Eu nunca ficaria com você seu cretino nojento - Cuspi novamente em sua cara.
  Ele me deu um soco no rosto. Aquilo doeu todo meu corpo e acabei caindo no chão. Ele riu.
- Sua vadia porca - passou a mão na saliva em seu rosto - Seu namorado deveria ter feito como eu havia ensinado, mas foi muito mole com você. Isso é pra deixar minha marca registrada.
  Agora esta tudo explicado. Foi ele, tudo foi ele.
- Mas vou dá o fora e deixar que o remorso de ter matado seu namorado, acabe com o resto. Porque a culpa sempre foi sua e sempre vai ser. Você vai levar isso para sempre, princesinha.
E se foi.

  Meus dias após este acontecimento não foram dos melhores. Meus pais me deixaram ficar mais algumas semanas em casa. Eles foram ate minha escola e conversaram com a diretora sobre meu caso. Meus professores passaram a me passar por e-mail as lições, porém não via sentido em faze-los, não via sentido em comer, em sair, na verdade não via sentido em mais nada.
   Perdi 10 quilos nas primeiras semanas, minha mãe insistia em me dá algo e eu ate tentava, mas meu corpo jogava para fora. Naqueles momentos meu quarto era meu castelo de horror e minha cama meu trono. Eu não saia para nada, nem Grazi conseguiu amenizar a situação. Minhas amigas também foram me ver, insistiam para sair, comer alguma coisa ou ate mesmo curti uma festa, porém elas não viam retorno nenhum.
   Mesmo com todos a minha volta eu me sentia sozinha, solitária. Eu queria fugir, porque naquele momento nada mais me importava. Queria ficar sozinha, em um lugar deserto, mas na verdade vi que nada mais fazia sentido, minha vida não fazia sentido. Comecei a me auto mutilar no banheiro, cortando meu pulsos. Em minha mente, logo estaria com Ricardo e aquela solidão iria acabar.
  Com o tempo pensei que havia perdido minha voz, eu não falava com ninguém. Para saberem que ainda estava viva, assim que acordava eu sentava na cama e ficava olhando para o nada. A noite eu sempre tinha pesadelos com Ricardo, acordava gritando e minha mãe chegava com olhar desesperado e ao me ver me abraçava e ficava o resto da noite comigo, ate eu pegar no sono novamente.
   Meus pais começaram a ficar muito preocupado com minha situação e mais uma vez eu não estava acabando só comigo, mas com eles também. Meu pai marcou um psicologo para mim, era um amigo dele do futebol. No dia, quem me levou foi minha mãe, ela dizia que iria ficar tudo bem, porém depois de algumas sessões, ainda não havia dado efeito nenhum. Eu apenas olhava para ele e ele para mim, era muito estranho.
   Meus pais já não sabiam mais o que fazer. Quando saiu o resultado da bolsa de estudos, Grazi que foi me contar. Ela levou o envelope e sentou perto de mim.
 - É com enorme prazer que informamos que a senhorita Pietra Devalle Barbosa é a ganhadora da bolsa de estudo do concurso literário da biblioteca central. Com um artigo bem elaborado, coerente e uma excelente linha de pensamento, seu texto será publicado e estará em destaque em nossa biblioteca.  agradecemos sua participação - ela olhou para mim - atenciosamente, a coordenação.
 Olhei para ela e dei de ombros.
- Ah! para Pi, isso era tudo o que você queria. Você estudou bastante para isso. - E me entregou a carta.

   Eu não ligava por ter ganho aquilo, foi por causa dele que me afastei ainda mais de Ricardo. Foi por causa dele que o desprezei e não estava lá quando ele precisava de mim. Eu não ligava mais para estudos nem nenhuma baboseira dessas, percebi que quando morremos, isso não vale de nada mesmo.
  Peguei a carta, dei uma olhada, amassei e joguei no chão.

- Pi, a gente não sabe mais o que fazer - ela sentou do meu lado e segurou minha mão - você não vive mais. Não é mais aquela garota ativa, que sempre estava com um livro na mão e um sorriso no rosto - ela parou e olhou para baixo, pela primeira vez vi minha irmã daquela forma - Ele se foi, entendemos, mas você não. Entendemos que isso é bastante ruim, mas já faz meses e você não volta. A culpa não é sua mana, tente entender isso. A gente não quer perder você também, eu não quero perder você - vi uma lágrima em seu rosto.
Aquele momento foi horrível, me senti ainda mais um lixo. O que eu estava fazendo?
   

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